quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


É superior porque amo, mas não possuo.
Porque não sujo mais o corpo com meus beijos,
Nem marco a pele com minhas mãos frias, suadas.
Não vai doer porque eu nunca mais  terei calorosamente,
Carnalmente, junto à meu externo;
Porque não haverá a contaminação física,
Então não poderei chorar a perda
Do amor que é interno.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DOMINGO


Escrevo com a sombra da caneta.
A sombra da mão que julgo ser minha,
conduz a sombra da caneta que julgo conduzir.

Tudo é sombra.

Nada é real quando nada sinto?
Tudo é real quando sinto, não sinto,
Vivo, não vivo, falo a verdade e minto.

Repito: tudo é sombra.

Vejo a silhueta que julgo ser minha, no chão.
Fito-me fitando-me.
Tudo é sombra.
O domingo me é assim: dolor. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

'Quod me nutrit, me destruit.'
'Aquilo que me nutre, me destrói.'

 Daria no mesmo citar uma das duas frases - ambas com o mesmo significado - para me poupar de um discurso explicativo longo, sobre o que sou ou o que sinto, mas, como já moro em mim faz algum tempo, e, por consequência, um pouco me conheço, sei que não ficaria satisfeita com vinte e duas letras (ou vinte e cinco), duas aspas, uma vírgula e um ponto final.
 A verdade é que não gosto de açaí na tigela - nem fora dela. Não gosto de açaí de jeito nenhum.
 A verdade é que me falam: 'Come, é saudável e vai te fazer bem'; então eu insisto, e eu empurro, ponho a máscara de 'Delícia!'; monto um personagem de 'Nunca comi coisa igual.'
 Por que eu forço? Porque gostar de açaí faz bem, porque degluto muitos alimentos prejudiciais à saúde, porque penso que 'água mole em pedra dura, tanto bate até que fura'.
 Essa insistência - apesar do valor nutricional que o alimento possui - não me está causando sensações agradáveis.
 Pode ser bom, pode ser o certo, mas meu organismo rejeita.
 Não entendo o funcionamento do meu intestino emocional, porém, se ele só sustenta o caos, que assim seja.   Vai que, um dia, o clichê que mamãe sempre usa: 'tudo demais, é veneno' torne-se um fato, e eu enjoe - assim como acontece quando como uma panela de brigadeiro sem beber água - das substâncias caóticas que, por hora, me nutrem.
 Se ocorrer, que seja naturalmente, sem ter que comer mais que o necessário só para forçar uma repulsa, uma indigestão.
 A partir de hoje, não insisto em comer açaí ou qualquer outra substância insustentável.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Então: diga-me quando hão de sair estas marcas internas e externas que deixaste em mim. Diga-me quando olharei minhas mãos, e as reconhecerei como minhas. Diga-me quando fitarei meus olhos, e não verei a sombra dos teus.
Pouco compreendo sobre a arte de amar, só tenho a certeza de que dói. E como dói. É algo capaz de perfurar o seu estômago e te entorpecer lentamente. Algo capaz de eliminar qualquer pensamento positivo ou vontade de viver.
Que hei de fazer? Diga-me: que hei de fazer diante de algo que me frustra, que desfigura todas as minhas teorias lógicas? 
E de que adianta sofrer a longo prazo? É perda de tempo, sem mais. Lembre-se que enquanto estás, por ai, aos prantos, o outro alguém, no qual concentra os seus pensamentos, está apenas vivendo sua vida, como se nada tivesse acontecido. Ele não a ama, não mais. Mesmo que algumas vezes te diga isso, é apenas por pena, nunca terá a mesma intensidade do passado. Não permaneça nesse mundo ilusório onde apenas pequenas mentes resolvem se privar.
Ah! Sei o que não devo, sei o que devo fazer, mas como apagarei, diga-me, os traços que ele deixou na minha alma? Olho-me internamente, e assim como meu exterior, não enxergo, o que deveria ser eu, nitidamente. Há digitais dele em tudo o que sou.
Força de vontade, o que seria do homem sem isso? E ainda existem pessoas que não acreditam na capacidade de destruição que o psicológico pode ter. Pois bem, tente, lute, afaste-se do problema. Crie novos vínculos, saia, divirta-se. Viva a sua vida, uma hora vai passar.


                                                                                             
                                                                                                 Por Letícia Keyla e Stephanie Soares.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Apenas isto


Não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo não consigo.
É bem isto. Sem vírgulas, parágrafos ou pontos finais, apenas isto: não consigo. 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Eu funciono errado


Se o mundo cai, então deixa cair.
Resmungar, gritar, cobrar? Para quê?
Adianta? Tenho direito?
Não.
Que caia! Que caia! Que caia!
E para que partilhar meus lamentos?
Darás jeito?
Me deixa calado assim, porque só quem me entende é o senhor do tempo.
Me deixa quieto assim, que amanhã eu me reconstruo.
Desculpe por hoje, é que tem dias que a alma fraqueja.
Ainda estou me acostumando com a liberdade,
com a tua imagem em outros sonhos,
de outros jeitos.
Estou com defeito.
Alguém me compre um novo coração.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Amanhã


eu queria ter uma lupa
para ver mais adiante
para ver meu futuro
   nesse instante

   não tenho intenção de alterá-lo
manipulá-lo
        é a curiosidade que me assola
curiosidade de um ser triste, desolado.

até quando durará o agora?
     quando a linha do ontem irá se romper?
me falam para viver o hoje
estou vivendo
o hoje é a curiosidade do amanhã

então não posso viver o amanhã no hoje
nem o hoje no amanhã?
tudo sempre é ontem
amanhã é sempre hoje

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cores, Traços, Rabiscos: Até que a vida me prove o contrário

Cores, Traços, Rabiscos: Até que a vida me prove o contrário: Mais uma flor se foi, abandonou meu solo infértil, sentiu-se oprimida - talvez - por não poder crescer em meio à tantos pedregulhos; mas af...

Até que a vida me prove o contrário

 Mais uma flor se foi, abandonou meu solo infértil, sentiu-se oprimida - talvez - por não poder crescer em meio à tantos pedregulhos; mas afirmo, minha belíssima flor de cravo, minha planície não foi sempre assim.
 As flores partem, mas resquícios significativos de suas raízes ficam.
 Quando digo "flores", no plural, refiro-me às duas flores que foram plantadas na superfície terrestre do meu coração; uma: a de luz inconfundível, a de espinhos mínimos, o grande amor de minha vida - de minha morte; outra: a de pétalas de ouro, a de cravo, a de casca dura e interior frágil, a flor amiga.
 Flor mulher, flor amiga, vossas raízes estão aqui, não só no coração - já ultrapassaram esse limite há tempos - vossas raízes estão cravadas em minha alma, e não me importo que a dúvida exista, não me importo.
 O tempo, a vida, o jardineiro maior, aquele que me fez, te fez, a fez, um dia há de estampar todas as respostas em vossas faces, há de desvendar o mistério diante de vossos olhos; e quando assim for - tanto para mim quanto para vós - a força que nos une, o que eu plantei em vós e o que plantastes em mim, nos farão conjunto novamente, nos farão terra e planta - superfície plana, fértil, e flor.
 Eu não tenho pressa. Deixem-me ser banhado pela chuva, ser secado pelo sol; deixem-me ser acalentado pelo sereno, pelo calor; deixem que passe o verão, o inverno; deixem que minhas pedras fragmentem-se; deixem que o jardineiro Deus prepare minha terra, a faça mais plana, para que eu poça vos receber  com conforto e para que vós cresçais com liberdade, sem intervenção de pedregulho nenhum.
 Eu não tenho pressa. O que nos uniu, o que - de certa maneira - ainda nos une, está aqui.
 Tenho para mim que raízes de amor nunca morrem - até que a vida me prove o contrário.

"Morre, hoje, no dia 10 do 09 de 2011:  Cores, Traços, Rabiscos. Que o texto vomitado acima torne-se o epitáfio escrito na lápide da tristeza que habitou o peito de quem aqui vomitou."

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

[Intervalo]

"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir."

L.do.D - Bernardo Soares

domingo, 4 de setembro de 2011

O retrato de teus cuidados


Tu lembras como eu era forte, saudável?
Lembras das minhas pétalas de cores vibrantes, do perfume doce que elas exalavam?
Ainda recordas como eram verdes as minhas folhas?
Eu ainda lembro, com clareza, dos tempos em que tu vinhas conversar comigo, do tempo em que me banhavas, me adubavas, podavas minhas folhas ressecadas pelo sol...
Tu lembras quantas vezes bebi as lágrimas que deixaste cair sobre minhas pétalas enxutas?
Tu lembras que prometi morar, para sempre, em teu jardim?
Então o verão chegou, e deixaste de podar minhas folhas queimadas, deixaste de banhar-me, deixaste de adubar-me.
Me arrancaste de teu jardim, plantaste outra flor, depois me resgataste – ainda com vida – na esperança de que eu me tornasse a mesma flor de antes, mas só me banhavas uma vez por semana, me podavas uma vez por mês, e quando vinhas conversar, falavas de outras flores mais belas, de cores mais vibrantes que as minhas.
De pétalas manchadas e murchas, de folhas secas e espinhos  por todos os lados, hoje, não me queres mais, hoje questionas o que me tornei, hoje me apontas o dedo e me comparas com outras flores.
O que querias que eu tivesse me tornado, jardineira minha?
Que perfume querias que eu exalasse?
Se doem tanto os meus espinhos nos teus dedos sem luva, por que não me podaste com certa frequência?
Eu sou o retrato dos teus cuidados, jardineira minha, mas se olhares pela janela de teu quarto, vais notar-me, ainda, depois de tantos maus tratos, com as raízes fincadas em teu jardim; vais notar uma flor seca, aparentemente sem vida, mas sempre ali, constantemente ali.
Eu sou o retrato de teus cuidados, jardineira minha...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Osmose em célula [quase] vegetal


Sinto-me como uma célula vegetal, murcha, plasmolisada. O que antes me compunha, me abastecia, foi expelido através de lágrimas, manchando os papéis, borrando os escritos espalhados pela mesa do meu computador. Hoje ainda choro, e não sei que substância coloco para fora. O que posso concluir, por hora, é que sempre terei algo para expelir, que a deplasmólise, em mim, é realmente inevitável, que o ciclo só terá um fim depois da aniquilação de minha matéria. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011


Deixo, então, de tomar o antídoto contra o veneno da humanidade.
Que ocorra a mutação oprimida, que penetre a substância corrosiva expelida pelos animais racionais.
Tornar-me-ei o monstro, ou a coisa, que vós me obrigais a ser. 

Eu nunca te disse
Mas agora saiba
Nunca acaba, nunca
O nosso amor
Da cor do azeviche
Da jabuticaba
E da cor da luz do sol

Eu te amo
Vou dizer que eu te amo
Sim, eu te amo
Minha flor

Eu nunca te disse
Não tem onde caiba
Eu te amo
Sim, eu te amo
Serei pra sempre o teu cantor

(Eu te amo - Caetano Veloso)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Efetivo


Os resquícios do meu ser improfícuo ficaram na sua caixa de raciocínios. Espero que os tenha guardado com zelo, já que o que eu chamo, hoje, de improficuidade, tu chamas de endeusamento. Apague essa imagem errônea que tens de mim, pois nunca fui deus, e nunca quis que pensasses que eu era. Olhe-me, agora, com outros olhos, e perceberás que nunca passei de uma criaturinha ignóbil, análoga...
O magnífico está na sua caixa de pensamentos, nunca saiu dela, nunca foi algo externo, real. 

domingo, 21 de agosto de 2011

[Fragmentos]

Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares


127.
"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos.
Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos."
"Eu não sou pessimista, sou triste."


Expelir


Sapatos, bolsas, roupas, eletrodomésticos, móveis, carros; nada me serve, nem mesmo esta cadeira de madeira, feita, artesanalmente, sob proporção exata, para meu inteiro conforto.
Eis a palavra: conforto.
Digam-me: De que me adianta o luxo, o banho quente, a TV de plasma, a cama de casal, o celular, o carro do ano, se me falta o conforto da alma?
De que me serve um banho quente se, ao sair, o vento há de congelar-me novamente?
De que me serve a TV de plasma se o conteúdo a ser reproduzido não agrada minhas retinas cansadas e mata meu cérebro de tédio?
De que me serve a cama de casal se estou a desfrutar de todo o espaço sozinha, e a única coisa a aquecer meu pés gelados são meus próprios pés e não os de outrem?
De que me serve o celular moderno, com todos os atributos igualmente modernos, se não tenho interesse em comunicar-me com o exterior de mim?
De que me serve o luxuosíssimo carro do ano se não tenho vontade de ir além da padaria que fica na esquina de minha casa? - E, para isso, ainda me são úteis as pernas.
Interesso-me, mesmo, pela literatura, a música, as artes, que, apesar de, muitas vezes, provocarem um imenso surto na mesma alma em desconforto, proporcionam, ao menos, uma sensação diversa, algo mais que o tédio e o sono.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Primeiro de julho




Quero, de presente, o útero de minha mãe.
Quero uma passagem de volta para o ventre.
Quero sentir-me no interior de alguém,
Quero sentir-me amada sem, ao menos, ser conhecida.
Levem-me. Levem-me para dentro, novamente.
Quero tudo outra vez.
Quero sentir o ar, pela primeira vez, sendo tragado pelos meus pulmões não infectados,
Quero chorar pela primeira vez,
Quero nascer de novo,
Quero crescer de novo,
Quero morrer de novo, e de novo, e de novo... 

Abdicar

Não movo mais um músculo para tentar salvar-nos.
Todos os meus seiscentos e trinta e nove músculos já estão cansados e, grande parte, contundidos.
E tu, meu bem, o que fazes com teus músculos?
Tu levas uma vida amorosa sedentária, preferes não te exercitar, pois esta função é dos que te almejam.  Preferes não ter contusões, e é por isso que recuas, e foi por isso que me deixaste partir.
Não moveste um músculo por nós – ou, talvez, até tenhas movido uns poucos -
Tentaste correr, tentaste, mas logo cansaste e desististe.
Eu espero que tu entendas a minha quietude, o meu descanso, pois já corri tanto, dando passos mais longos que minhas pernas, suportando calor e frio, engordando e emagrecendo, enfraquecendo e fortalecendo...
Eu sei que ainda tenho forças, eu sei que aguentaria correr mais umas milhas para tentar te trazer de volta, mas cansei de dar murro em ponta de faca.
Nas vezes que eu pensei em desistir, em simplesmente viver, me condenei, antecipadamente, por achar que eu estaria jogando fora esse amor, mas, hoje, alguém me deu um tapa na cara e colocou um espelho em minha frente, obrigando-me a ver minha própria face. O que eu vi? Eu vi as marcas da insônia nos meus olhos, eu vi os rastros da tristeza em minhas sobrancelhas,  eu vi meu corpo esguio, eu não vi vida; Então eu tive certeza... eu fiz de tudo por nós - eu sei que eu fiz - eu me doei por inteiro, eu não abdiquei só de algumas poucas coisas por ti, mas eu abdiquei de mim.
Eu tenho certeza que não joguei fora, e você vai entender em uma determinada hora...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O oposto

Teu coração sedentário,
 calmo,
me embalava num
compasso lento.
Meu coração hiperativo,
louco,
te embalava num samba
cansativo.
O sedentário e o hiperativo.
 Meu coração doido,
completamente doido.
 Teu coração lúcido,
espantosamente lúcido.
 Foi um romance entre o samba e a música clássica,
 e nenhum se rendeu ao ritmo do outro,

e os dois não souberam juntar tudo e fazer música.
Teu coração preguiçoso,
absurdamente preguiçoso.
Meu coração disposto,
cansativamente disposto...
o oposto.



terça-feira, 14 de junho de 2011

Vômito

Escrevo porque o que há não cabe em mim.
Escrevo porque tudo – aqui dentro – transborda.
E vomito versos – sim, vomito – quando em meu estômago
emocional algo é mal digerido.
Então, minhas palavras nada mais são do que
vômito. (E o mais interessante é que o deglutes, o meu vômito.)  

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nostalgia


flores dobradas
papel azul
corpo esguio
corpo quase nu
aprendendo traços
olhos abertos
às seis da manhã
suor
cravo e hortelã
passageiros
enlatados
lábios vermelhos
dias nublados
outro tempo
antigo
dias que se foram
dia
nostalgia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Branco

Manchei de tinta estas paredes brancas.
Manchei para parecer menos louca.
Ah, como é divino poder desfrutar
Da liberdade do manchar.
Derramo-me em minhas paredes,
Em minhas paredes vivo.
E tu, o que queres aqui?
Não me venha pintar de branco o que foi manchado,
Não me venha dar de presente a loucura.
Sai daqui com esta tinta branca maldita.
Vá para o diabo com ela!
Quero manchas,
Quero olhos e ouvidos,
E bocas, e dentes nas minhas paredes.
Quero a nobre companhia dos meus rabiscos.
Quero que esta loucura branca vá para o diabo!

branco
mancho o
que não foi manchado
 perdeu-se a tinta
no olho rabiscado
o olho
que era cor
de amarelo
cádmio

terça-feira, 7 de junho de 2011

Despeço-me

Possuo uma vaga lembrança dos teus olhos tristes...
Despeço-me deles.
Despeço-me dos teus cabelos leves e brancos
tal como a poeira que predomina a superfície
da cadeira em que estou sentada.
Despeço-me da tua matéria, doce mulher...
Doce criança.
Despeço-me de ti através destes versos,
E se não for pedir demais, caso encontres
Meu nobre avô, diga que sinto saudades,
E que as histórias contadas por ele
Ainda flutuam em minha mente,
Ainda me transportam para um mundo
Menos ácido que este.
Vai, doce criatura,
Vai que este mundo não é dos doces,
Os amargos prevalecem
-E não me venham dizer o contrário,
Pois vós, que ainda estão vivos,
Tendes olhos e vês.-
Vai, mas vai sem medo.
Ganhaste, e nada perdeste.
Guardarei tua imagem, o único
Sorriso teu que tive a oportunidade de ver,
O som da tua voz, soprada uma
Única vez em meus ouvidos.
Serás eterna em minha mente.
E lembra-te:
Ganhaste, nada perdeste.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pensar, sentir

Por Deus!
Não vamos chegar a conclusão nenhuma, coração.
Não percebes que o melhor é deixar partir?
Só eu sei das dores que sentes,
Só eu posso ver a tua flacidez,
Tuas estrias.
Tu lembras, coração, como
Tais lesões originaram-se?
Não, tu não lembras, pois
esta é minha função.
Tu só sentes, coração.
Por isso digo-lhe, afirmo-lhe
que o melhor é partir.
Deixa que eu cuido dos quadros
que ela pintou, das marcas que ela deixou
em nós.
Eu sou a encarregada de arquivar
todos os acontecimentos,
todos os alegres e tristes momentos,
e se quiseres, posso arquivar só os mais belos.
A única coisa que preciso, é do seu consentimento.
O que achas, coração?
Aceitas minha proposta?
Diabos, coração!!!
Não te cansas?
Quanta teimosia!
Não pensas?...

"Como hei de pensar, se esta não é minha função?
Não existe, e nunca existirá, um consenso entre nós, ó mente aparentemente lúcida.
Não preciso de ti agora.
Não quero, nesse instante, a tua lucidez.
Acalma-te, deixe-me sentir mais uma vez."





 

domingo, 22 de maio de 2011

E de que me adianta acabar com a matéria?
Diga-me, de que adianta?
A dor que carrego é na alma, e essa,
mesmo depois da morte, há de sempre existir...
Minha dor é eterna.
Saiam todos daqui.

sábado, 21 de maio de 2011

Vinte de maio

Acolha-me, ó imenso verde abaixo de meus pés,
acolha-me, ó céu quase cinza acima de minha cabeça,
acolha-me, ó folha em branco abaixo da ponta de meu lápis.
Acolham-me.
Árvores, por favor, movam-se mais rápido,
céu, derrame sobre meus ombros, já cansados,
tuas lágrimas infinitas.
Molhem-me, lavem-me, limpem-me,
levem-a daqui... agora!
A imagem a ferir minhas córneas,
a imagem a ferir-me o cérebro, a alma, o peito,
é a dela, com ela.
A imagem a dominar meu sono,
a imagem predominante,
a imagem mutante,
é a dela, com ela...
Por isso peço-lhe, suplico-lhe,
ó nuvem negra cheia de lágrimas contidas,
que derrame seu pranto sobre mim.

Apossa-te de meu peito frio,
ó fumaça debilitante.
Envolve meus olhos, minha mente,
em minutos de vácuo, de trégua.
Faz-me esquecer da dor que me assola o peito,
faz-me esquecer da imagem,
a qual minha mente tanto renega.

"Apaguem as luzes,
acendam o cigarro,
e retirem-se daqui."

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Prestes

Eu mandei, apenas, por mandar,
para livrar-me do peso de não ter mandado.
Não espero resposta, mandei como se tivesse errado o endereço.
Mandei – repito – apenas por mandar,
com um único propósito: o de não acumular pensamentos corrosivos.
Algo justifica o meu não esperar-esperando?
Eu não anseio a resposta,
no profundo de mim, sei que ela não virá,
porém não deixo de almejar que a luz acenda.
Ó, profundo contraditório de mim, que
não espera o retorno, mas, simultaneamente,
ainda tem esperanças.
Esse ter e não ter,
querer não querendo,
almejar não almejando, não passa de uma luta
entre meu eu sentimental e meu eu racional.
Dura batalha iniciada há tempos,
dura batalha que compromete o meu equilíbrio sentimental,
minha sanidade psicológica...
Mas que equilíbrio? Que sanidade psicológica?
Nunca tive equilíbrio algum, muito menos sanidade.
O que sei é que ambas as partes estão cansadas,
ambas as partes de mim estão prestes,
e ‘prestes’ é quase o fim.

" A outra parte de mim
       a embriagada, a turva.
 A outra parte ainda mais perdida,
    a qual não sei se é boa ou ruim,
sei, apenas, que é a outra parte de mim..."

Nada

Parem de me olhar, paredes insanas,
deixem-me em paz.
Permaneço aqui, pois não há outro lugar para ir,
não tenho acesso a nenhum lugar aberto.
Estou sentada há três horas,
e não aguento mais ouvir tuas risadas.
Vós debochais de mim.
Estou sufocada.
Sinto-me mal...
Sinto-me só.
Não quero alugar mais ouvidos,
não quero mais partilhar minhas lamúrias.
Eu fico olhando, mas a luz não acende.
Eu fico esperando, mas nenhuma vibração ocorre.
Fui ignorada.
Fui esquecida.
Tratam-me como se eu fosse nada,
mas o 'nada' ainda é algo, o nada é nada,
eu sou mais que nada, ou pior que nada.
Vácuo.
Sinto-me só...
Sinto-me, e não é agradável sentir-me.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vasculho

A tua caixa intacta, ali, dentre as outras caixas também intactas.
Memórias misturadas, frases soltas, versos contraditórios.
A caixa com teu nome, absolutamente composta de artefatos raros.
Compacta.
Vasculho, e dói vasculhar.
A dor é de saudade, a dor é de lembrar.
Ontem eu mandei revesti-la de aço,
comprei um cadeado,
e a coloquei lá.
Não ouse abrir! Falo para o bem de quem ousa, não tem nenhum outro motivo que justifique minha advertência. Falo para o bem de quem ousa abri-la sem tomar as devidas precauções.
Esta caixa tem manual de instruções
para os que desconhecem seu conteúdo.
Amor, dor, tristeza, solidão,
ciúme, desejo, tentação.
Aí dentro tem de um tudo,
se queres mesmo abri-la, prepara teu coração.

Olho pelo vasculhante de meu quarto
       vasculho-ante
vasculhante.
          Imagem distorcida,
cadeira vazia,
  caixa cheia de amor, perfume de flor...
  e agonia."

 

domingo, 15 de maio de 2011

Meia noite e vinte e seis

Eu acho tão injusto... acho tão injusto quando iludes meu coração.
Não me faça, por favor, de segunda opção
deixe-me, esqueça-me, e vá. Vá por outros ares, procurar por outros pares
não fale que me ama sem amar, não fale, meus ouvidos logo transmitem a informação para meu coração... não fale, não fale nada.
Se não queres estar presente, então se faça distante, e fim.


"Por Deus! Essas dores ainda doem."

terça-feira, 10 de maio de 2011

Flor de cravo

Eu cheguei a me perguntar se tu tinhas alguma espécie de venda nos olhos, que impedia que visses a linda flor de cravo que se encontrava ali, disposta, na frente dos olhos teus.
Eu juro, cheguei a me perguntar, sem ao menos te conhecer a fundo, sem ao menos saber teu segundo nome, e-mail, telefone - essas coisas.-
Tu que, ao meu ver, não chegas nem a ser o solo perfeito para receber as raízes desta flor tão delicada. Tu que, ao meu ver, não tem a sutileza, nem a disponibilidade, de ver as cores vivas e únicas desta flor de cravo –ou talvez até tenha, mas por um motivo maior, prefira não as enxergar agora.-
Eu sou como um terceiro olho nessa história, sou, apenas, um terceiro coração não envolvido, e tenho a vantagem, ou desvantagem, de ter uma visão de fora, uma visão mais ampla.
Se, um dia, quando o inverno passar, e essa grandiosa e delicada flor não estiver mais coberta pelos pingos d’água, e o sol surgir forte e luminoso no céu, tu fores capaz de perceber o quanto ela é bela, o quanto as linhas e cores, e sabores são de uma sutileza sem tamanho, por favor, tome-a, como se não houvesse nenhuma outra flor no mundo.

 "Flores, meu caro, existem muitas... mas poucas, tem perfumes doces e agradáveis, poucas tem cores tão felizes e suaves."

domingo, 8 de maio de 2011

Desconverso.

É feliz, o que importa é que é feliz,
que não existe nenhum outro motivo incumbido além da felicidade.
O branco do céu, hoje, não estava totalmente branco, mas também não era cinza, entendes?
É muito confuso? Tu achas?
Eu só quero que entendas, meu caro, que o único motivo pelo qual escrevo é a felicidade. O que tem de complicado nisso? Céus! É necessário que eu desenhe?
Tens sorte por eu saber desenhar.
Entenda, quando chove – chuva. Aquelas gotículas d’água que caem do céu- parece que o mar está em cima, e não embaixo, parece que o céu virou o mar, e o mar, virou o céu – e nisso tudo, o que mudam são as cores.- Entendes agora?
Por Deus, criatura! Como estás lento.
O prazer, o prazer das coisas simples, o comparar descomparando, o admirar desadimirando, o contaminar descontaminando, o conversar desconversando.
O prazer de confundir, de não explicar – propositadamente, claro.-
O falar, falar, falar. Falar sem dizer nada, só para desabafar...

sábado, 7 de maio de 2011

" É que eu amo com o coração e todas as partes de meu corpo. É que eu te amo inteiramente, sem jogar nada fora, pois não tens nada de ruim ou podre para ser descartado, tens, apenas, uns mecanismos que devem ser aperfeiçoados, um sistema que precisa ser regularizado, e uma engrenagem que precisa de um pouquinho de óleo."
Não te cansas, mar?
São tão repetitivos os teus movimentos.
Já pensaste em, uma única vez, ultrapassar os teus limites? Por uma única e breve vez, ir além da areia molhada, além da areia pisada.
Ora! Não me perguntes o pq de tal questionamento, apenas responda-me, se for possível.
É, eu entendo, meu nobre amigo.
Isso também acontece comigo.
Ultrapassar, ir além, nem sempre faz bem para quem está por perto.
Seguir adiante, sem calcular, pode devastar corações, imensidões, paisagens, populações.
Mar, mas as vezes a gente ultrapassa sem pensar, a gente esquece e deixa a fúria se manifestar.
É, eu entendo.
Mas quem nos compreende, amigo?
Julgam nossa fúria, nossa agitação.
Simplesmente não entendem nossa manifestação.
Sim, meu nobre amigo, eu sei que não há maldade em nós, mas quem - diga-me quem - vai pensar nos motivos pelos quais nos revoltamos?
É triste, amigo.

" É difícil controlar-se, minha pálida estrela. É difícil até para o mar."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Te dedico, pela ultima vez, esses versos.
Essa é a ultima vez, pequena flor,
que derramo a tinta no papel
para falar do nosso amor.
Apesar do feito, mal feito, desfeito,
guardo aqui, em meu esquartejado peito,
um carinho maldito que não quer sumir.
Eu sei, não adianta negar,
que te engrandeces quando me fazes sofrer,
quando me fazes chorar.
Enfim, tu foste, és, e sempre serás o motivo de minha dor.
Tu foste, és, e sempre serás a mais bela flor.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Fome

Sinto fome. Tenho me alimentado muito mal nesses últimos tempos.
Admiro-me, pois tenho sido forte.
Nutro-me, apenas, das lembranças de outrora.
Não. Não é um alimento saudável, estou certo disso, mas é o que mantém a ordem dentro de mim, é o que me causa um pouco de paz.
Caso não estejas entendendo, meu caro leitor, falo da fome da alma, do coração, e não daquela que nos toma o estômago.
Pois bem, meu coração já está fraco e minha alma dispersa, apesar de ainda possuir muitas lembranças, apesar de estarem ainda quentinhas, saídas do forno.
Tem dias que, assim como um estômago faminto, minha alma revira-se de fome, e as lembranças, as lembranças não bastam para alimentá-la.
Tem dias que meu coração se contorce e estremece.
Agora, nesse mesmo instante, ao vomitar essas palavras, sinto uma agonia tamanha. Antes de aqui vir, devorei as cartas e fotografias ainda guardadas em minha carteira, devorei o barulho do vento na janela daquela sala, devorei meu corpo e o dela abraçados no chão do quarto, devorei o sorriso, os olhos, os cabelos, devorei a imagem dela dormindo e a manhã surgindo... devorei o “Ei, eu te amo”, devorei as risadas, o estalar do dedo, mas não basta, não basta, NÃO BASTA.
Continuo sentindo fome da presença.
Minha alma sente fome, minhas mãos sentem fome, minhas pernas, minha face, minha boca, meu coração.
Só sei que sinto fome, e tem dias que lembranças, apenas, não bastam...

sábado, 12 de março de 2011

Sujos somos nós

Bocas e bocas falantes,
línguas e línguas cortantes,
que criticam o vestido da morena,
que criticam o ritmo do pandeiro.
Dedos e mais dedos,
podres dedos que desdenham das máscaras de carnaval,
mas que mascaram-se todos os dias na frente do espelho
espalhando por toda a face um pó mais claro que o tom de sua pele
lambuzando pelos lábios um intenso batom vermelho.
Podres bocas,podres dedos
que desdenham o tempo inteiro,
que maldizem o espírito carnavalesco
e no fundo sentem uma vontade cortante de fazer o mesmo.
Podres bocas,podres dedos
que olham com nojo a felicidade alheia,
que colocam toda a culpa,de toda a desgraça existente,na festa cultural.
E se abolirmos o carnaval?
A proliferação  do vírus HIV não vai mais se estender?
Associaram o sexo a  tal comemoração.
Associaram tudo o que é “grotesco e sujo” a tal manifestação.
Eu vos implico a minha humilde opinião:
Sujos somos nós,
que sabemos o que se passa debaixo dos nossos lençóis.
Sujos somos nós,
que contaminamos tudo o que tocamos,
até as festas infantis,
com nossa malícia e nossos atos imbecís.
Sujos somos nós,
que criticamos o tempo todo
e perdemos a oportunidade de sermos felizes.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Calor

Cabelos,olhos,cílios,
boca,garganta,ombros,
seios,ventre,sexo,
pernas,pés,unhas dos pés,
tudo insuportavelmente frio.
Cérebro,nervos,sangue,
veias,rins,ossos,pulmões,
tudo intensamente frio,
como se não houvesse vida,
como se não houvesse calor,
como se não houvesse amor,mas havia,
havia amor,havia calor,havia vida.
Corpo frio,insuportavelmente frio.
Coração quente,insuportavelmente quente
onde havia,havia sim um acúmulo de calor
um calor do bom e um calor do ruim,
daquele que não se espalha,
daquele que não aquece,
um calor brutal que perfura,rasga e estremece,
um calor que não queima de vez,que não vira cinza,
um calor que nunca passa
nem depois de tomar litros ‘água,
nem depois de meter-se no congelador.
Um calor do bom e um calor do ruim
um calor de amor e um calor de dor...
um calor que não passa,não cessa e fim.

terça-feira, 8 de março de 2011

Saiam átomos que não são meus.
Saiam células que não são minhas,
não as quero mais aqui.
O que faço?
Por Deus,o que faço para tirar teus restos de mim?
Há vestígios de ti pela minha face,olhos,seios e pernas
há vestígios de ti em minha língua,em meu nariz,em meus pulmões
há vestígios de ti em tudo o que é meu,em tudo o que eu toco,e vejo,e gosto,e desgosto.
Saiam,eu ordeno.
Quero que saiam todos os teus átomos dos meus,
pois já não há mais sentido nessa união.
Já me lavaste de ti,e então?
Pq eu,somente eu,permaneço assim?
Pq em meu corpo as tuas células ainda permanecem casadas com as minhas?
pq?
lava-me,leva todos os teus rastros de meu corpo,de minh’alma
leva,como levaste os meus de ti.
Ah,se eu nunca tivesse misturado meus átomos com os teus,minhas células com as tuas,
essa vontade que sinto em minha alma,coração,mente,seios,pernas,braços,olhos e cada um de meus órgãos,não existiria.
Ah,se eu não tivesse...
nada disso existiria,nada de necessidade,nada de dor,nada de ausência de calor
nada de células e átomos
nada de amor.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Formigas

Deito-me aqui...aqui mesmo no chão duro e gélido,mas quanto ao frio do chão,meu corpo inquieto e quente faz o favor de aquecê-lo,então...deito-me,e como que para disfarçar o desconforto do chão,forro um pano fino e negro,e só então,deito-me de verdade.
Observo as formigas grandes,médias,pequenas,pretas,amarelas,vermelhas...
Elas chegam perto como se eu fosse algum tipo de doce,algum alimento gigantesco.
Qual será o número necessário de formigas para me mover?
Para as formigas,sou enorme,mas não sou nada...nem como alimento elas me querem. Elas apenas chegam perto,conferem o produto e depois partem.
Para elas,eu não passo de uma figura,uma massa qualquer ocupando o espaço.
As formigas são admiráveis...
As formigas estão certas,não passamos de um complemento de paisagem.
Que sentido teria um chão frio,um pano negro colocado sobre ele,livros,canetas sobre o pano,sem um complemento?
Que utilidade teriam tais coisas?
Elas complementam o espaço que ocupam,mas falta algo para complementá-las também.
As formigas estão certas...
As formigas estão certíssimas.
Admiro-as,criaturinhas pequeninas...
Tão minúsculas e tão inteligentes,capazes de tal raciocínio que nem eu,criatura de quase 1,70 metros de altura,fui capaz de ter.
Tenho por vós,ó criaturinhas milimétricas,uma admiração incomum.
Não quero.
Já falei que não quero que tu mudes,ó profundo de mim.
ó,minh’alma,por favor,não sofra mutações grotescas.
ó,coração já cansado,
ó,órgãos dilacerados,eu suplico,não mudem.
Ó,língua,controle-se.
Não quero esquecer do que fui,
das coisas boas que fiz,
dos sentimentos que senti.
Não quero mudar meus costumes
por causa de certos amores ou desamores.
Não quero.
Eu me recuso.
Eu não aceito.

quarta-feira, 2 de março de 2011

As pessoas são pretas,brancas,amarelas e azuis
As pessoas são furta-cor.
São melodias simples,complexas,
compassos lentos,rápidos
São violinos,arpas,contra-baixos.
As pessoas são uma orquestra inteira
Cada uma tocando a sua maneira,
Cada uma com sua própria melodia.
Criaturas abstratas,divinas.
surpreendentes,benéfica e maleficamente.
Interrogações,exclamações,pontos finais
tudo,tudo,tudo junto.
Mistas,almas coloridas
sons que tocam as mais diversas músicas.
Contraditórias,de segundo em segundo
da tristeza para a alegria,
do sim pro talvez...
do amor para o ódio,
entre céu e terra,certo e errado
dia após dia.
As pessoas são machado de Assis,Carlos Drummond de Andrade,
Fernando pessoa e seus heterônimos.
Amanhã? Quem há de saber?
As pessoas são:” mutáveis.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ó,flor de espinhos mínimos,
teus espinhos,por serem mínimos,não deixam de machucar.
Ó,pequena flor de espinhos mínimos,
eu fui apenas o chão no qual penetraram tuas raízes
e quando partiste,esqueceste de levá-las contigo.
Cuidado,ó flor,para não deixar mais tuas raizes em solos serenos e calmos
para não deixá-los estragados e impossibilitados de serem enraizados por novas flores.
Ó,pequena e encantadora flor de espinhos mínimos,será que eu,assim como outros,tenho também uma canção para que recordes dos tempos anteriores? Uma canção como as que lembram teus antigos amores?
Teu coração sempre parado e tranqüilo,nunca reagiu aos meus carinhos.
 o problema é com o solo que já está desgastado ou com a flor e seus mínimos espinhos?
Ó,pequena e encantadora flor que um dia foi minha...
o meu solo não é tão rico,não tem as qualidades que tu mereces para poder crescer rapidamente,mas devagar tudo se encaixa,não achas?
Ele não é dos mais adequados,eu sei,até está um pouco rachado e seco
mas se a chuva ajudar isso pode melhorar.
Linda flor de espinhos mínimos,se quiseres  voltar um dia
as tuas raízes ainda vão estar aqui
e meu solo,sempre solitário e impossibilitado de receber novas flores,
há de esperar,pacientemente,por ti.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lá em cima das nuvens,um menininho acena pra mim
e eu o observo intrigada
o menininho esbanja felicidade
e eu só sinto melancolia e mais nada.
Ele brinca com as nuvens
enquanto toca a música melodramática
e a tristeza em mim persiste,a dor se espalha.
Eu fico encantadamente melancólica
e não desejo que ele desapareça.
A dor que sinto ao ver aquele alegre menino,é totalmente suportável.
Os meus olhos,fanáticos e incansáveis,não deixam de o observar por nenhum momento
E eu tenho pra mim que já o vi em algum outro lugar.
Talvez nos meus sonhos?
Meu Deus! Talvez não seja um menino...
Será uma menininha? Uma flor pequenina?
Eu busco dentro de mim aquela criatura tão feliz que observo no céu
que flutua nas nuvens
eu busco em cada parte da minha mente
procuro incansavelmente.
Por Deus!
Aquela criaturinha sou eu?  
Explosão de sentimentos
que corroem por dentro
que não me deixam em paz
incontroláveis sentimentos
que me tomam por dentro e me fazem querer mais

mais e mais
sempre quero  mais
incontroláveis sentimentos
que me tomam por dentro
eu quero paz

não da pra explicar
e nem pra medir
impulsivo,contraditório
impossível definir
alguém,alguém me tire daqui