domingo, 21 de agosto de 2011

Expelir


Sapatos, bolsas, roupas, eletrodomésticos, móveis, carros; nada me serve, nem mesmo esta cadeira de madeira, feita, artesanalmente, sob proporção exata, para meu inteiro conforto.
Eis a palavra: conforto.
Digam-me: De que me adianta o luxo, o banho quente, a TV de plasma, a cama de casal, o celular, o carro do ano, se me falta o conforto da alma?
De que me serve um banho quente se, ao sair, o vento há de congelar-me novamente?
De que me serve a TV de plasma se o conteúdo a ser reproduzido não agrada minhas retinas cansadas e mata meu cérebro de tédio?
De que me serve a cama de casal se estou a desfrutar de todo o espaço sozinha, e a única coisa a aquecer meu pés gelados são meus próprios pés e não os de outrem?
De que me serve o celular moderno, com todos os atributos igualmente modernos, se não tenho interesse em comunicar-me com o exterior de mim?
De que me serve o luxuosíssimo carro do ano se não tenho vontade de ir além da padaria que fica na esquina de minha casa? - E, para isso, ainda me são úteis as pernas.
Interesso-me, mesmo, pela literatura, a música, as artes, que, apesar de, muitas vezes, provocarem um imenso surto na mesma alma em desconforto, proporcionam, ao menos, uma sensação diversa, algo mais que o tédio e o sono.

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