quarta-feira, 28 de março de 2012

Olho-te, mulher, e fico atônito
com teus traços exageradamente sutis.
Tu és a mais grácil criação
da mãe-divina natureza.
Exalto-a, figura não fictícia!
Angélica é a compleição interna
que se expande além do alcance
limitado de minha vista.
Rasgo-te sedas, linhos e chitas
nesse meu discurso difuso
que canta a tua imaculada beleza

terça-feira, 27 de março de 2012

Ausência

O que falta nos olhos da mulher de seios fartos, e glúteos esculturais, que não se pode identificar?
O que falta no sorriso do homem de bíceps rígidos e virilidade exalante?
O que falta no encontro casual dos sexos úmidos, dos corpos salgados(suados)?
Impalpável.
A ausência do que está além da matéria é a deficiência da oração.
Sujeito sem predicado;
Predicado sem sujeito.

sexta-feira, 16 de março de 2012


Ó, bendita Realidade, lhe sou inteiramente grato pela palma da mão pesada sobre meus ombros esguios.
Disciplina-me da mais árdua maneira, para que eu seja o mais forte entre todos. Que eu seja o meu único guerreiro.
Viver de sonho é acovardar-se, e já não vejo mais glória alguma em por a mão no peito e gritar que sou covarde.
Que eu sonhe, apenas, de olhos fechados.
Deixa-me ser analisado pelas retinas ácidas dos seres mais ínfimos. 
Mande-me mais falsos afetos e sorrisos de vidro.
Ah, ignóbil raça, lhe tenho verdadeiro fascínio.
Saber viver é sentir o oculto aroma doce dos dejetos alheios.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Covardia



Tempos úmidos: recordamos e almejamos estações passadas.
Tempos de cólera: alimentamo-nos das fragmentadas memórias de outrora.
Quem há de querer degustar as frutas amargas da árvore da vida?
Quem terá a coragem impetuosa de penetrar na selva paradoxal das emoções, em busca de conhecimento?
Sem dúvida, há um prazer oculto na dor, mas, para senti-lo, deve-se possuir a ausência do medo da morte.
Admiro piamente os que não estancam as dores do presente, com sentimentos paliativos do passado, mas, por outro lado, me é totalmente compreensível esta covardia abrangente.
Tenho asco dos que almejam reviver o ido, como quem relê um conto predileto.
Tenho asco de mim, que ando para trás...
Memórias boas são anestésicos que não se vendem na farmácia.

terça-feira, 13 de março de 2012

Irmãos da mesma raça, há quem nos chame de cães, há quem nos aponte as bicheiras e as sarnas.
Um ciclo de difamações mal empregadas, porém nunca erradas, porque somos vis.
Nos chamam cães movidos pela débil limitação da consciência, ou pelo comodismo parasital. Então quem, em seu estado de lucidez, poderia constatar que não passamos de carrapatos com mania de grandeza?