domingo, 4 de setembro de 2011

O retrato de teus cuidados


Tu lembras como eu era forte, saudável?
Lembras das minhas pétalas de cores vibrantes, do perfume doce que elas exalavam?
Ainda recordas como eram verdes as minhas folhas?
Eu ainda lembro, com clareza, dos tempos em que tu vinhas conversar comigo, do tempo em que me banhavas, me adubavas, podavas minhas folhas ressecadas pelo sol...
Tu lembras quantas vezes bebi as lágrimas que deixaste cair sobre minhas pétalas enxutas?
Tu lembras que prometi morar, para sempre, em teu jardim?
Então o verão chegou, e deixaste de podar minhas folhas queimadas, deixaste de banhar-me, deixaste de adubar-me.
Me arrancaste de teu jardim, plantaste outra flor, depois me resgataste – ainda com vida – na esperança de que eu me tornasse a mesma flor de antes, mas só me banhavas uma vez por semana, me podavas uma vez por mês, e quando vinhas conversar, falavas de outras flores mais belas, de cores mais vibrantes que as minhas.
De pétalas manchadas e murchas, de folhas secas e espinhos  por todos os lados, hoje, não me queres mais, hoje questionas o que me tornei, hoje me apontas o dedo e me comparas com outras flores.
O que querias que eu tivesse me tornado, jardineira minha?
Que perfume querias que eu exalasse?
Se doem tanto os meus espinhos nos teus dedos sem luva, por que não me podaste com certa frequência?
Eu sou o retrato dos teus cuidados, jardineira minha, mas se olhares pela janela de teu quarto, vais notar-me, ainda, depois de tantos maus tratos, com as raízes fincadas em teu jardim; vais notar uma flor seca, aparentemente sem vida, mas sempre ali, constantemente ali.
Eu sou o retrato de teus cuidados, jardineira minha...

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