sexta-feira, 6 de abril de 2012

Egoísmo


Não canto o meu amor aos ventos,
nem sequer ouso pintá-lo nas quatro paredes
que cercam esta miserável e desdenhosa raça;
Só tu tens poder absoluto sobre o meu canto,
só tu mereces ouvi-lo.
E só tua pele, parede de pêssego,
possui minhas cores invisíveis,
meus micróbios, minhas digitais.
Engole o sorriso, e faz do teu olhar opaco
ao cruzar com o meu.
Deixe que pensem que somos tristes...  

quarta-feira, 28 de março de 2012

Olho-te, mulher, e fico atônito
com teus traços exageradamente sutis.
Tu és a mais grácil criação
da mãe-divina natureza.
Exalto-a, figura não fictícia!
Angélica é a compleição interna
que se expande além do alcance
limitado de minha vista.
Rasgo-te sedas, linhos e chitas
nesse meu discurso difuso
que canta a tua imaculada beleza

terça-feira, 27 de março de 2012

Ausência

O que falta nos olhos da mulher de seios fartos, e glúteos esculturais, que não se pode identificar?
O que falta no sorriso do homem de bíceps rígidos e virilidade exalante?
O que falta no encontro casual dos sexos úmidos, dos corpos salgados(suados)?
Impalpável.
A ausência do que está além da matéria é a deficiência da oração.
Sujeito sem predicado;
Predicado sem sujeito.

sexta-feira, 16 de março de 2012


Ó, bendita Realidade, lhe sou inteiramente grato pela palma da mão pesada sobre meus ombros esguios.
Disciplina-me da mais árdua maneira, para que eu seja o mais forte entre todos. Que eu seja o meu único guerreiro.
Viver de sonho é acovardar-se, e já não vejo mais glória alguma em por a mão no peito e gritar que sou covarde.
Que eu sonhe, apenas, de olhos fechados.
Deixa-me ser analisado pelas retinas ácidas dos seres mais ínfimos. 
Mande-me mais falsos afetos e sorrisos de vidro.
Ah, ignóbil raça, lhe tenho verdadeiro fascínio.
Saber viver é sentir o oculto aroma doce dos dejetos alheios.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Covardia



Tempos úmidos: recordamos e almejamos estações passadas.
Tempos de cólera: alimentamo-nos das fragmentadas memórias de outrora.
Quem há de querer degustar as frutas amargas da árvore da vida?
Quem terá a coragem impetuosa de penetrar na selva paradoxal das emoções, em busca de conhecimento?
Sem dúvida, há um prazer oculto na dor, mas, para senti-lo, deve-se possuir a ausência do medo da morte.
Admiro piamente os que não estancam as dores do presente, com sentimentos paliativos do passado, mas, por outro lado, me é totalmente compreensível esta covardia abrangente.
Tenho asco dos que almejam reviver o ido, como quem relê um conto predileto.
Tenho asco de mim, que ando para trás...
Memórias boas são anestésicos que não se vendem na farmácia.

terça-feira, 13 de março de 2012

Irmãos da mesma raça, há quem nos chame de cães, há quem nos aponte as bicheiras e as sarnas.
Um ciclo de difamações mal empregadas, porém nunca erradas, porque somos vis.
Nos chamam cães movidos pela débil limitação da consciência, ou pelo comodismo parasital. Então quem, em seu estado de lucidez, poderia constatar que não passamos de carrapatos com mania de grandeza?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Estou desapontado.
Pensei ter comprado tijolos fortes, um material de excelente qualidade, para construir uma fortaleza implacável.
Eu não sei o que houve, mas hoje, ao olhar melhor o resultado da obra, percebi que as paredes da nossa história foram trocadas, são de vidro... e já estão, quase todas, quebradas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Tão frágil quanto uma linha de algodão.





Sentimento
(não) cabe na palavra
(não) cabe no verso
(não) cabe no pensamento

Sentimento
o que tem por fora
dos olhos tristes
dos olhos felizes
o reflexo do que há por dentro

Sentimento
as marcas de fora
nas mãos surradas
nas faces sofridas

Sentimento
o que se tem em comum
o que não se tem em comum
até mesmo a falta de sentimento

Sentimento
mesmo na ausência, se faz presente.

domingo, 22 de janeiro de 2012


Não posso queixar-me das consequências, o meu pescoço ainda sustenta uma caixa onde está situada a minha consciência.
Eu grito, para mim, esta queixa.
Um ato, por mais que julgues ser do tamanho de um único grão de poeira, é sempre um ato; e se esse minúsculo grão entrar no olho, vai incomodar e fazer um estrago medonho.
Um mau ato não se mede, é como uma dor, e não existe dor maior ou menor, tudo é dor.
Um mau ato é um mau ato, e fim.

Nasci para a solidão de mim.
Não há quem mereça a minha ínfima presença, além da minha própria sombra.
Sendo assim...

sábado, 21 de janeiro de 2012


sobre minha cabeça a culpa,
a proteção em vão;
o arrepio,
o frio que
tocou a minha nuca.
por onde passou esta gotícula de água da chuva?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Memória

Eu estou sentindo demais, lembrando demais.
Aqui dentro está parecendo a Avenida Epitácio Pessoa em horário de congestionamento.
Mais tarde eu volto a trafegar direito.

domingo, 1 de janeiro de 2012

22:10 01/01/2012


Eu voltei a enxergar com meus próprios olhos. Devolveram-me, ao menos, o sentido da visão.
 Não sei se prefiro a cegueira, através da qual acreditava piamente num possível estado de mudança comportamental humano, ou a clareza com que vejo, agora, as imagens particularmente (i)reais - imagens estas que julgo e, ao julgar, torno-me descrente de tudo; e quando digo ‘tudo’, é tudo mesmo.
Mas ainda me restam dúvidas: Enxergo, mesmo, com meus olhos? Quem garante que são meus? E é claro, realmente, isto que vejo e julgo?
Até que ponto eu sou eu, e não uma mistura condensada de outros Eus?
Por ser uma junção de ideias, de seres mistos, posso assim considerar-me único?
Meu eu não existe.
Eu não sou eu, sou todo mundo; e por ser todo mundo, não sou ninguém.