domingo, 22 de maio de 2011

E de que me adianta acabar com a matéria?
Diga-me, de que adianta?
A dor que carrego é na alma, e essa,
mesmo depois da morte, há de sempre existir...
Minha dor é eterna.
Saiam todos daqui.

sábado, 21 de maio de 2011

Vinte de maio

Acolha-me, ó imenso verde abaixo de meus pés,
acolha-me, ó céu quase cinza acima de minha cabeça,
acolha-me, ó folha em branco abaixo da ponta de meu lápis.
Acolham-me.
Árvores, por favor, movam-se mais rápido,
céu, derrame sobre meus ombros, já cansados,
tuas lágrimas infinitas.
Molhem-me, lavem-me, limpem-me,
levem-a daqui... agora!
A imagem a ferir minhas córneas,
a imagem a ferir-me o cérebro, a alma, o peito,
é a dela, com ela.
A imagem a dominar meu sono,
a imagem predominante,
a imagem mutante,
é a dela, com ela...
Por isso peço-lhe, suplico-lhe,
ó nuvem negra cheia de lágrimas contidas,
que derrame seu pranto sobre mim.

Apossa-te de meu peito frio,
ó fumaça debilitante.
Envolve meus olhos, minha mente,
em minutos de vácuo, de trégua.
Faz-me esquecer da dor que me assola o peito,
faz-me esquecer da imagem,
a qual minha mente tanto renega.

"Apaguem as luzes,
acendam o cigarro,
e retirem-se daqui."

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Prestes

Eu mandei, apenas, por mandar,
para livrar-me do peso de não ter mandado.
Não espero resposta, mandei como se tivesse errado o endereço.
Mandei – repito – apenas por mandar,
com um único propósito: o de não acumular pensamentos corrosivos.
Algo justifica o meu não esperar-esperando?
Eu não anseio a resposta,
no profundo de mim, sei que ela não virá,
porém não deixo de almejar que a luz acenda.
Ó, profundo contraditório de mim, que
não espera o retorno, mas, simultaneamente,
ainda tem esperanças.
Esse ter e não ter,
querer não querendo,
almejar não almejando, não passa de uma luta
entre meu eu sentimental e meu eu racional.
Dura batalha iniciada há tempos,
dura batalha que compromete o meu equilíbrio sentimental,
minha sanidade psicológica...
Mas que equilíbrio? Que sanidade psicológica?
Nunca tive equilíbrio algum, muito menos sanidade.
O que sei é que ambas as partes estão cansadas,
ambas as partes de mim estão prestes,
e ‘prestes’ é quase o fim.

" A outra parte de mim
       a embriagada, a turva.
 A outra parte ainda mais perdida,
    a qual não sei se é boa ou ruim,
sei, apenas, que é a outra parte de mim..."

Nada

Parem de me olhar, paredes insanas,
deixem-me em paz.
Permaneço aqui, pois não há outro lugar para ir,
não tenho acesso a nenhum lugar aberto.
Estou sentada há três horas,
e não aguento mais ouvir tuas risadas.
Vós debochais de mim.
Estou sufocada.
Sinto-me mal...
Sinto-me só.
Não quero alugar mais ouvidos,
não quero mais partilhar minhas lamúrias.
Eu fico olhando, mas a luz não acende.
Eu fico esperando, mas nenhuma vibração ocorre.
Fui ignorada.
Fui esquecida.
Tratam-me como se eu fosse nada,
mas o 'nada' ainda é algo, o nada é nada,
eu sou mais que nada, ou pior que nada.
Vácuo.
Sinto-me só...
Sinto-me, e não é agradável sentir-me.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vasculho

A tua caixa intacta, ali, dentre as outras caixas também intactas.
Memórias misturadas, frases soltas, versos contraditórios.
A caixa com teu nome, absolutamente composta de artefatos raros.
Compacta.
Vasculho, e dói vasculhar.
A dor é de saudade, a dor é de lembrar.
Ontem eu mandei revesti-la de aço,
comprei um cadeado,
e a coloquei lá.
Não ouse abrir! Falo para o bem de quem ousa, não tem nenhum outro motivo que justifique minha advertência. Falo para o bem de quem ousa abri-la sem tomar as devidas precauções.
Esta caixa tem manual de instruções
para os que desconhecem seu conteúdo.
Amor, dor, tristeza, solidão,
ciúme, desejo, tentação.
Aí dentro tem de um tudo,
se queres mesmo abri-la, prepara teu coração.

Olho pelo vasculhante de meu quarto
       vasculho-ante
vasculhante.
          Imagem distorcida,
cadeira vazia,
  caixa cheia de amor, perfume de flor...
  e agonia."

 

domingo, 15 de maio de 2011

Meia noite e vinte e seis

Eu acho tão injusto... acho tão injusto quando iludes meu coração.
Não me faça, por favor, de segunda opção
deixe-me, esqueça-me, e vá. Vá por outros ares, procurar por outros pares
não fale que me ama sem amar, não fale, meus ouvidos logo transmitem a informação para meu coração... não fale, não fale nada.
Se não queres estar presente, então se faça distante, e fim.


"Por Deus! Essas dores ainda doem."

terça-feira, 10 de maio de 2011

Flor de cravo

Eu cheguei a me perguntar se tu tinhas alguma espécie de venda nos olhos, que impedia que visses a linda flor de cravo que se encontrava ali, disposta, na frente dos olhos teus.
Eu juro, cheguei a me perguntar, sem ao menos te conhecer a fundo, sem ao menos saber teu segundo nome, e-mail, telefone - essas coisas.-
Tu que, ao meu ver, não chegas nem a ser o solo perfeito para receber as raízes desta flor tão delicada. Tu que, ao meu ver, não tem a sutileza, nem a disponibilidade, de ver as cores vivas e únicas desta flor de cravo –ou talvez até tenha, mas por um motivo maior, prefira não as enxergar agora.-
Eu sou como um terceiro olho nessa história, sou, apenas, um terceiro coração não envolvido, e tenho a vantagem, ou desvantagem, de ter uma visão de fora, uma visão mais ampla.
Se, um dia, quando o inverno passar, e essa grandiosa e delicada flor não estiver mais coberta pelos pingos d’água, e o sol surgir forte e luminoso no céu, tu fores capaz de perceber o quanto ela é bela, o quanto as linhas e cores, e sabores são de uma sutileza sem tamanho, por favor, tome-a, como se não houvesse nenhuma outra flor no mundo.

 "Flores, meu caro, existem muitas... mas poucas, tem perfumes doces e agradáveis, poucas tem cores tão felizes e suaves."

domingo, 8 de maio de 2011

Desconverso.

É feliz, o que importa é que é feliz,
que não existe nenhum outro motivo incumbido além da felicidade.
O branco do céu, hoje, não estava totalmente branco, mas também não era cinza, entendes?
É muito confuso? Tu achas?
Eu só quero que entendas, meu caro, que o único motivo pelo qual escrevo é a felicidade. O que tem de complicado nisso? Céus! É necessário que eu desenhe?
Tens sorte por eu saber desenhar.
Entenda, quando chove – chuva. Aquelas gotículas d’água que caem do céu- parece que o mar está em cima, e não embaixo, parece que o céu virou o mar, e o mar, virou o céu – e nisso tudo, o que mudam são as cores.- Entendes agora?
Por Deus, criatura! Como estás lento.
O prazer, o prazer das coisas simples, o comparar descomparando, o admirar desadimirando, o contaminar descontaminando, o conversar desconversando.
O prazer de confundir, de não explicar – propositadamente, claro.-
O falar, falar, falar. Falar sem dizer nada, só para desabafar...

sábado, 7 de maio de 2011

" É que eu amo com o coração e todas as partes de meu corpo. É que eu te amo inteiramente, sem jogar nada fora, pois não tens nada de ruim ou podre para ser descartado, tens, apenas, uns mecanismos que devem ser aperfeiçoados, um sistema que precisa ser regularizado, e uma engrenagem que precisa de um pouquinho de óleo."
Não te cansas, mar?
São tão repetitivos os teus movimentos.
Já pensaste em, uma única vez, ultrapassar os teus limites? Por uma única e breve vez, ir além da areia molhada, além da areia pisada.
Ora! Não me perguntes o pq de tal questionamento, apenas responda-me, se for possível.
É, eu entendo, meu nobre amigo.
Isso também acontece comigo.
Ultrapassar, ir além, nem sempre faz bem para quem está por perto.
Seguir adiante, sem calcular, pode devastar corações, imensidões, paisagens, populações.
Mar, mas as vezes a gente ultrapassa sem pensar, a gente esquece e deixa a fúria se manifestar.
É, eu entendo.
Mas quem nos compreende, amigo?
Julgam nossa fúria, nossa agitação.
Simplesmente não entendem nossa manifestação.
Sim, meu nobre amigo, eu sei que não há maldade em nós, mas quem - diga-me quem - vai pensar nos motivos pelos quais nos revoltamos?
É triste, amigo.

" É difícil controlar-se, minha pálida estrela. É difícil até para o mar."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Te dedico, pela ultima vez, esses versos.
Essa é a ultima vez, pequena flor,
que derramo a tinta no papel
para falar do nosso amor.
Apesar do feito, mal feito, desfeito,
guardo aqui, em meu esquartejado peito,
um carinho maldito que não quer sumir.
Eu sei, não adianta negar,
que te engrandeces quando me fazes sofrer,
quando me fazes chorar.
Enfim, tu foste, és, e sempre serás o motivo de minha dor.
Tu foste, és, e sempre serás a mais bela flor.