sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cores, Traços, Rabiscos: Até que a vida me prove o contrário

Cores, Traços, Rabiscos: Até que a vida me prove o contrário: Mais uma flor se foi, abandonou meu solo infértil, sentiu-se oprimida - talvez - por não poder crescer em meio à tantos pedregulhos; mas af...

Até que a vida me prove o contrário

 Mais uma flor se foi, abandonou meu solo infértil, sentiu-se oprimida - talvez - por não poder crescer em meio à tantos pedregulhos; mas afirmo, minha belíssima flor de cravo, minha planície não foi sempre assim.
 As flores partem, mas resquícios significativos de suas raízes ficam.
 Quando digo "flores", no plural, refiro-me às duas flores que foram plantadas na superfície terrestre do meu coração; uma: a de luz inconfundível, a de espinhos mínimos, o grande amor de minha vida - de minha morte; outra: a de pétalas de ouro, a de cravo, a de casca dura e interior frágil, a flor amiga.
 Flor mulher, flor amiga, vossas raízes estão aqui, não só no coração - já ultrapassaram esse limite há tempos - vossas raízes estão cravadas em minha alma, e não me importo que a dúvida exista, não me importo.
 O tempo, a vida, o jardineiro maior, aquele que me fez, te fez, a fez, um dia há de estampar todas as respostas em vossas faces, há de desvendar o mistério diante de vossos olhos; e quando assim for - tanto para mim quanto para vós - a força que nos une, o que eu plantei em vós e o que plantastes em mim, nos farão conjunto novamente, nos farão terra e planta - superfície plana, fértil, e flor.
 Eu não tenho pressa. Deixem-me ser banhado pela chuva, ser secado pelo sol; deixem-me ser acalentado pelo sereno, pelo calor; deixem que passe o verão, o inverno; deixem que minhas pedras fragmentem-se; deixem que o jardineiro Deus prepare minha terra, a faça mais plana, para que eu poça vos receber  com conforto e para que vós cresçais com liberdade, sem intervenção de pedregulho nenhum.
 Eu não tenho pressa. O que nos uniu, o que - de certa maneira - ainda nos une, está aqui.
 Tenho para mim que raízes de amor nunca morrem - até que a vida me prove o contrário.

"Morre, hoje, no dia 10 do 09 de 2011:  Cores, Traços, Rabiscos. Que o texto vomitado acima torne-se o epitáfio escrito na lápide da tristeza que habitou o peito de quem aqui vomitou."

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

[Intervalo]

"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir."

L.do.D - Bernardo Soares

domingo, 4 de setembro de 2011

O retrato de teus cuidados


Tu lembras como eu era forte, saudável?
Lembras das minhas pétalas de cores vibrantes, do perfume doce que elas exalavam?
Ainda recordas como eram verdes as minhas folhas?
Eu ainda lembro, com clareza, dos tempos em que tu vinhas conversar comigo, do tempo em que me banhavas, me adubavas, podavas minhas folhas ressecadas pelo sol...
Tu lembras quantas vezes bebi as lágrimas que deixaste cair sobre minhas pétalas enxutas?
Tu lembras que prometi morar, para sempre, em teu jardim?
Então o verão chegou, e deixaste de podar minhas folhas queimadas, deixaste de banhar-me, deixaste de adubar-me.
Me arrancaste de teu jardim, plantaste outra flor, depois me resgataste – ainda com vida – na esperança de que eu me tornasse a mesma flor de antes, mas só me banhavas uma vez por semana, me podavas uma vez por mês, e quando vinhas conversar, falavas de outras flores mais belas, de cores mais vibrantes que as minhas.
De pétalas manchadas e murchas, de folhas secas e espinhos  por todos os lados, hoje, não me queres mais, hoje questionas o que me tornei, hoje me apontas o dedo e me comparas com outras flores.
O que querias que eu tivesse me tornado, jardineira minha?
Que perfume querias que eu exalasse?
Se doem tanto os meus espinhos nos teus dedos sem luva, por que não me podaste com certa frequência?
Eu sou o retrato dos teus cuidados, jardineira minha, mas se olhares pela janela de teu quarto, vais notar-me, ainda, depois de tantos maus tratos, com as raízes fincadas em teu jardim; vais notar uma flor seca, aparentemente sem vida, mas sempre ali, constantemente ali.
Eu sou o retrato de teus cuidados, jardineira minha...