quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Osmose em célula [quase] vegetal


Sinto-me como uma célula vegetal, murcha, plasmolisada. O que antes me compunha, me abastecia, foi expelido através de lágrimas, manchando os papéis, borrando os escritos espalhados pela mesa do meu computador. Hoje ainda choro, e não sei que substância coloco para fora. O que posso concluir, por hora, é que sempre terei algo para expelir, que a deplasmólise, em mim, é realmente inevitável, que o ciclo só terá um fim depois da aniquilação de minha matéria. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011


Deixo, então, de tomar o antídoto contra o veneno da humanidade.
Que ocorra a mutação oprimida, que penetre a substância corrosiva expelida pelos animais racionais.
Tornar-me-ei o monstro, ou a coisa, que vós me obrigais a ser. 

Eu nunca te disse
Mas agora saiba
Nunca acaba, nunca
O nosso amor
Da cor do azeviche
Da jabuticaba
E da cor da luz do sol

Eu te amo
Vou dizer que eu te amo
Sim, eu te amo
Minha flor

Eu nunca te disse
Não tem onde caiba
Eu te amo
Sim, eu te amo
Serei pra sempre o teu cantor

(Eu te amo - Caetano Veloso)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Efetivo


Os resquícios do meu ser improfícuo ficaram na sua caixa de raciocínios. Espero que os tenha guardado com zelo, já que o que eu chamo, hoje, de improficuidade, tu chamas de endeusamento. Apague essa imagem errônea que tens de mim, pois nunca fui deus, e nunca quis que pensasses que eu era. Olhe-me, agora, com outros olhos, e perceberás que nunca passei de uma criaturinha ignóbil, análoga...
O magnífico está na sua caixa de pensamentos, nunca saiu dela, nunca foi algo externo, real. 

domingo, 21 de agosto de 2011

[Fragmentos]

Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares


127.
"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos.
Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos."
"Eu não sou pessimista, sou triste."


Expelir


Sapatos, bolsas, roupas, eletrodomésticos, móveis, carros; nada me serve, nem mesmo esta cadeira de madeira, feita, artesanalmente, sob proporção exata, para meu inteiro conforto.
Eis a palavra: conforto.
Digam-me: De que me adianta o luxo, o banho quente, a TV de plasma, a cama de casal, o celular, o carro do ano, se me falta o conforto da alma?
De que me serve um banho quente se, ao sair, o vento há de congelar-me novamente?
De que me serve a TV de plasma se o conteúdo a ser reproduzido não agrada minhas retinas cansadas e mata meu cérebro de tédio?
De que me serve a cama de casal se estou a desfrutar de todo o espaço sozinha, e a única coisa a aquecer meu pés gelados são meus próprios pés e não os de outrem?
De que me serve o celular moderno, com todos os atributos igualmente modernos, se não tenho interesse em comunicar-me com o exterior de mim?
De que me serve o luxuosíssimo carro do ano se não tenho vontade de ir além da padaria que fica na esquina de minha casa? - E, para isso, ainda me são úteis as pernas.
Interesso-me, mesmo, pela literatura, a música, as artes, que, apesar de, muitas vezes, provocarem um imenso surto na mesma alma em desconforto, proporcionam, ao menos, uma sensação diversa, algo mais que o tédio e o sono.